10 de fevereiro de 2010
Nós e os outros
Sempre pensei em como seria caso me voluntariasse para prestar ajuda em África. Sei que teria de deixar tudo o que mais valoro para trás, os amigos e a família e avançar para um mundo completamente novo e desconhecido.
Uma noite, sonhei que estava em frente a um pequeno edifício de pedra, onde várias pessoas de aspecto miserável e olhos suplicantes por ajuda estavam encostadas á parede. Mordendo o lábio inferior entrei no pequeno edifício com a saca ao ombro com alguma roupa, uma ou outra recordação e uma pequena maquina fotográfica.
Fui ter com um homem que estava a vacinar uma menina. Esta não devia ter mais que sete anos e olhou para mim muito assustada.
- Desculpe, sou a nova voluntaria… - Comecei por apresentar-me.
- Tenho muito que fazer! Tome esta chave e tente encontrar o seu quarto, peça ajuda a alguém se não o encontrar. – Interrompeu-me ele dando-me a chave sem tirar os olhos do que estava a fazer.
Devido á minha evidente falta de sentido de orientação, acabei por me perder.
Pedi a uma rapariga de doze anos que passava por ali para me ajudar. Enquanto caminhávamos, reparei que ninguém por quem passávamos sorria… Limitavam-se a olhar para o vazio, era como apenas estivessem os corpos sem alma…
-Porque é que não sorriem? – Perguntei eu á menina.
- Neste lugar o sorriso é sinónimo de esperança… Aqui as pessoas limitam-se a existir até morrer, para nós a esperança extinguiu-se completamente.
Olhei para ela admirada em como uma criança tão jovem tinha tanta noção do meio que a rodeava.
- Diz-me… Se pudesses um desejo, qual pedirias?
A menina pensou um pouco. Olhou para mim com os seus olhos grandes negros e sábios e disse-me:
- Sabes… Quando a minha mãe era viva, ela sorria muito para mim e dizia que tudo ia correr bem. Que íamos ser felizes. Nesses momentos eu fui feliz… o meu maior desejo era ter a minha mamã de volta e essa felicidade que ela transportava sempre com ela.
Vieram-me as lágrimas aos olhos. Fiquei surpreendida com a força e inocência daquela criança. Peguei na saca que trazia e tirei de lá um pequeno anjo. Ela sorriu timidamente durante tempo suficiente para lhe poder tirar uma fotografia. – Vês? És tão bonita a sorrir! Tens de me ajudar a toda a gente daqui!
Ela sorriu, pegou na minha mão e ambas continuamos a caminhar.
Nesse momento acordei. Pus-me a pensar no estranho sonho que tivera e naquela menina tão corajosa.
Saí de casa para ir para a escola e, no caminho, ouvi uma rapariga a comentar com a amiga que perdera o telemóvel que recebera á seis meses atrás de propósito apenas para receber outro.
Fiquei enojada com aquele comentário, mas tal fez-me concluir que o mundo caminha a um passo cada vez mais rápido para a auto-destruição e que poucas pessoas lutam para o evitar.
Por vezes ficamos amuados pelos pais não nos darem o que queremos e alguns de nós nem comem enquanto os caprichos não forem satisfeitos, sem pensar nos nossos pais que trabalham para nos proporcionar uma vida boa e feliz sem esperar um agradecimento em troca, agradecimento que raramente damos. Enquanto isto acontece, numa outra parte do mundo há crianças que anseiam pelo amor e carinho dos pais. Esses pais muitas vezes já não existem e partem não podendo proteger os filhos do mal que os rodeiam.
Com este texto pretendo dizer que devemos pensar duas vezes antes de dizer “odeio-te” aos nossos pais e que não devemos valorar os bens materiais mas sim os sentimentos, pois são estes que nos fazem felizes e tornam a nossa vida mais cheia.
Ana Filipa, nº4
10ºE
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